quinta-feira, 31 de julho de 2014

Futebol, televisão e metrô

Virou o assunto da moda nas últimas semanas uma situação muito familiar para quem frequenta os estádios de futebol em São Paulo: transporte público no final da partida para voltar para casa. Ou horário dos jogos. Ou do metrô. Tanto faz.

Confesso que me causa estranheza isso ser discutido só agora. Todo mundo já sabia que esse horário só beneficia a televisão e torna a vida do torcedor que quer voltar para a casa depois da partida às 22h um verdadeiro caos. Mas a discussão, quando se tratava do Pacaembu – estádio localizado em uma região mais central da cidade – ficava marginalizada. Agora, com a Arena Corinthians realizando jogos em Itaquera, os holofotes reacenderam.

O problema todo é questão de dinheiro, que envolve televisão, que envolve audiência, que envolve interesse. Vamos por partes.

A Globo é detentora dos direitos de transmissão de TV aberta de praticamente todo o futebol brasileiro. Ela transmite dois jogos por semana: um aos domingos, na faixa das 16h, e um às quartas-feiras logo depois da novela, às 22h (ou 21h45). Exceções existiram, óbvio, como jogos aos sábados durante o carnaval e partidas isoladas de competições internacionais, Libertadores, na quinta-feira.

Como detentora dos direitos, a Globo paga – e muito bem – aos clubes. A fatia das receitas que vem da televisão é considerável, passando da casa dos 100 milhões por ano nos casos de Corinthians e Flamengo. Além disso, a emissora carioca também pratica constantes adiantamentos de cotas para que os clubes paguem suas dívidas crônicas e contas pendentes. No final das contas, é uma grande relação de parceria.

Ora, você paga pelo espetáculo e ainda manda um dinheiro mais adiante caso precisem. O espetáculo, então, vai se adaptar aos seus interesses. E o principal – em se tratando de televisão aberta – é a questão de horário e da nossa gloriosa “faixa nobre”.

Vamos à audiência, segundo o Ibope, na última quarta feira, dia 23 de julho. A fonte é o site RD1, como podem ver aqui.

Jornal Nacional 25

Império 33

Copa do Brasil (Corinthians x Bahia) 19

Jornal da Globo 9

Por volta das 21h, entra no ar a novela. Ela não é nada senão o programa televisivo de maior audiência diária no Brasil, hoje. Depois vem o futebol – e uma queda de quase 43% nos pontos.

“Ah, mas o horário tarde não deixa o pessoal assistir aos jogos, as pessoas tem que dormir!”

Mentira. Vamos aos números de domingo, dia 27 de julho:

Temperatura Máxima 13

Campeonato Brasileiro (Corinthians x Palmeiras) 20

Domingão do Faustão 18

Um dos clássicos mais importantes do futebol brasileiro, no domingo, meio da tarde, um horário ótimo. E um ponto a mais do que quarta (que teoricamente está em um horário “péssimo”).

(O caso de domingo é muito específico, já que a Globo dificilmente alcança o mesmo patamar de audiência dos dias de semana, e as emissoras concorrentes geralmente conseguem números mais expressivos do que o normal. Importante frisar que, mesmo com todos os “poréns”, o jogo foi o programa de maior audiência da televisão aberta no domingo.)

Percebem onde eu quero chegar?

Mesmo com tudo a favor, o futebol consegue só um pouco mais da metade de audiência de uma novela das 21h. A consequência direta disso é que a novela, então, tem prioridade absoluta na programação e o nobre esporte bretão é colocado na sequência.

Dinheiro, amigos. Audiência é tudo na televisão. E o futebol corriqueiro (exceção feita às grandes finais com times brasileiros e jogos da Seleção) não faz cócegas na novela. Azar do futebol e dos torcedores que precisam ir ao estádio.

Esse é o cenário, um tanto resumido, da relação televisão x horário x futebol. Agora, o transporte público.

O metrô de São Paulo, por questões estruturais próprias, não pode ser 24 horas. Não é por má vontade que fecha por volta da meia noite e abre por volta das 5 da manhã: nesse período é feita toda a manutenção e a limpeza da estrutura (trens, estações, trilhos, etc). Aliás, esqueçam esse papo de jovem revolucionário: a não ser que aconteça uma obra de proporções faraônicas, o metrô de São Paulo nunca vai ser 24 horas diariamente. Na virada cultural, UM DIA no ano, pode até acontecer. Todo dia, não.

O último trem, saindo de Itaquera 0h19min, deveria ser o suficiente (na teoria) para que o público terminasse de ver o jogo por volta de 23h50min e fosse para casa. Deveria, se o processo de escoamento do estádio fosse uniforme e todas as pessoas conseguissem chegar na estação mais ou menos no mesmo tempo. Mas aí entram dois problemas: o público não é homogêneo (existem pessoas que andam mais devagar, seja questões físicas de dificuldade ou qualquer motivo) e é muito grande. Em jogos grandes, são mais de 30 mil pessoas saindo, a maioria para o mesmo lugar.

E essa estação fechar 0h19min não significa que o metrô para de funcionar logo depois: há a questão da integração garantida, outras linhas funcionando, escoamento de todos os usuários do transporte.

Fazendo contas simples, dá para ver que o metrô vai parar de funcionar lá para uma e tanto da manhã. E cinco tem que estar tudo pronto para um novo dia de trabalho.

É mole?

Tendo em vista essa zona toda, o aumento de apenas 11 minutos – para 0h30min – no horário do último vagão acaba não virando uma bola de neve tão grande. Mas ainda assim há o prejuízo de tempo para a realização da tal manutenção da madrugada.

Vendo por fora, dá a impressão que não dá para esticar muito mais o horário além disso. Vai ser 0h30min e pronto.

E sabe por que o seu clube não reclama do horário com a detentora dos direitos, em nome dos seus torcedores que tem dificuldade para voltar para casa?

Porque ele, provavelmente, tem dinheiro adiantado. Você vai comprar briga com quem te adianta a grana na hora do aperto? Jogando a hipocrisia para escanteio: nunca, nem no sonho mais alucinado.

Enquanto a novela for o carro chefe da Globo e a audiência do futebol não compensar uma mudança de horário, tudo vai continuar exatamente como está.

Os motivos estão na mesa e a solução não é tão simples como parece. Para começar a pensar em mudar esse modelo é preciso uma revolução profunda no futebol brasileiro. Não vai acontecer tão cedo.

P.S.: E o Morumbi? Também não é próximo do centro e ninguém aparentemente reclama – podem indagar. A resposta é simples: costume. As pessoas já se acostumaram com o horário e com o acesso lá, então nem lembram de reclamar. A Arena Corinthians é muito nova, não teve nem 10 jogos com o dono da casa ainda e apenas um às 22h. A tendência, infelizmente, é que as pessoas se acostumem também.


Bragantino 1 x 2 São Paulo: A arte de diminuir o ritmo

Quando um dos candidatos ao título brasileiro da primeira divisão enfrenta um dos candidatos ao rebaixamento na segunda o mínimo que se espera é o domínio da partida e, por consequência, a vitória. O São Paulo venceu, sim, e chegou até a dominar na primeira metade do primeiro tempo. Mas poderia ter sido mais fácil.

Em um determinado momento da primeira etapa o time paulistano chegou a ter 74% de posse de bola. Passavam a bola pelo chão, giravam o jogo, buscavam alternativas. Um futebol interessante e, vindo do Muricy Ramalho, até surpreendente.

Ganso, vejam vocês!, estava agindo como um verdadeiro maestro nessa altura: centralizava as ações, pedia a bola e corria atrás. Mais de uma vez chegou a buscar jogo com os próprios zagueiros, praticamente como volante.

Aí veio o gol contra surreal do Bragantino, daqueles com convicção. E o São Paulo esfriou. A partir daí parou de achar facilmente as alternativas e o jogo ficou mais parelho.

Na segunda etapa, um pouco de emoção com boas chances pros dois lados. Mas um pênalti besta, bem cobrado por Alexandre Pato, praticamente selou a vitória.

Só que o Bragantino começou a ganhar terreno e numa jogada na ponta direita de Léo Jaime e um passe magistral para trás, Luisinho mandou para dentro do barbante.

No geral, o São Paulo vem apresentando elementos interessantes depois da parada da Copa do Mundo. Se conseguir manter esse ritmo e esse nível de concentração até o final das partidas, chega forte nessa Copa do Brasil e, quem sabe, até no brasileiro.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Felipão no Grêmio: por que não?

Estamos diante, mais uma vez, de uma mudança radical de valores em um grande clube do futebol brasileiro.

Vejamos: você tem um técnico jovem e com potencial, mas que ainda não possui um nome forte o suficiente para ser bancado pela direção perante uma torcida. Depois de três empates (todos por 0x0), uma vitória contra o Figueirense e uma derrota contra o Coritiba, ele é demitido. Para o lugar dele, é contratado um figurão, campeão da Libertadores pelo clube e com uma história absurda – de quase 20 anos atrás.

Ah, importante constar: figurão esse que, no comando da Seleção Brasileira, foi um dos responsáveis direto do maior vexame da história do escrete nacional. Em casa.

Mas... por que não?

É uma questão de identificação, uma coisa subjetiva demais para ser medida na frieza dos números. Felipão é gaúcho e fez história no tricolor de Porto Alegre. A torcida idolatra ele e há anos torce por um retorno. Ok, o timing não foi o ideal – e a volta depois de uma humilhação desse calibre é bem contestável – mas isso depõe quanto a dar certo ou não.

Talvez Luiz Felipe Scolari seja antiquado, talvez não tenha os melhores métodos, talvez seja cabeça dura demais pra mudar. Tudo isso pode ser verdade. Mas ele tem a cara e a alma que o Grêmio pode precisar nesse momento.

Só voltando rapidamente ao começo do post: não acho que Enderson Moreira merecia a demissão – especialmente por estar a três pontos da zona de classificação à Libertadores de 2015. Confio no seu potencial, acredito que o tempo em um clube grande poderia fazer um bem enorme a ele e ao futebol brasileiro.

Mas ele saiu e veio Felipão.

E a pergunta é: por que não?

O adeus de Ronaldinho Gaúcho

Acabou o casamento entre Ronaldinho e Atlético Mineiro. Cerca de dois anos no clube e três títulos depois, cada um segue o seu rumo.

Surpreendentemente, essa é a primeira vez que ele sai “na boa” de um time. No Grêmio e no Flamengo, vários problemas. A torcida de ambos não perdoa.

Mas conseguiu se recuperar no Galo. Foi campeão mineiro, da Libertadores da América e da Recopa por lá. Esteve junto nas maiores glórias.

O momento agora é outro. Ronaldinho tem o problema clássico da sua falta de interesse em jogar futebol: simplesmente esquece que é um atleta profissional depois de um tempo e vira mais notícia fora de campo do que dentro dele.

Talento? Inegável. Faz com a bola o que eu vi poucos fazerem. O problema é que não quer fazer sempre.

O prazo de validade talvez tenha passado um pouco. Depois da conquista continental, o declínio técnico foi visível. O Mundial de Clubes já não foi grandes coisas. Essa temporada, então, dispensa comentários. Quase um peso morto.

Sai bem, melhor do que entrou. Levou o Atlético à sua maior glória – com méritos e liderança.

Não consigo enxergar futuro para o ex-craque em atividade em um grande clube brasileiro. Talvez tenha mercado em países com futebol emergente – como Estados Unidos.

Boa sorte pra ele, boa sorte pro Galo. Finalmente uma despedida tranquila no Brasil.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Flamengo 1 X 0 Botafogo: Ânimo e vontade

Em um jogo, Luxemburgo conseguiu o que Ney Franco não conseguiu em sete: vitória – com o “agravante” de ser um clássico.

Mas relativizar é preciso. Se o Flamengo hoje está uma zona, o Botafogo consegue a façanha de estar dez vezes pior (vide a faixa com a qual os jogadores entraram em campo). Além disso o time da Gávea não apresentou um futebol de nível muito diferente do que vinha apresentando.

O que mudou, então? Vontade. Aliás, a partida foi jogada 90% na vontade e 10% em alguma técnica. Por isso foi um show de horrores, futebolisticamente falando. O segundo tempo, então, foi qualquer coisa de deprimente.

Eu cresci escutando que o Flamengo não pagava salários e que, por isso, os jogadores faziam o clássico “corpo mole”. A frase do Vampeta, inclusive, ilustrava bem a situação: “eles fingem que pagam e eu finjo que jogo”. Na época era comum ver medalhões se arrastando.

Hoje, porém, a situação é outra. Com exceção de um ou outro problema por causa de retenção de receita, o Flamengo está com seus salários em dia. Mesmo assim alguns jogadores insistiam em se arrastar.

Aí entrou Luxemburgo e um dos seus maiores acertos: barrou esses medalhões. Ora, se a situação hoje é mais estável e as condições de trabalho são boas, por que raios os caras ainda se arrastam? Tchau e bênção, vai esquentar o sofá de casa.

Um Flamengo comprometido, então, entrou em campo. Correndo, mostrando raça e disposição – como a torcida gosta.

Também dá para falar que o Botafogo entrou com raça e vontade em campo, mesmo com os 5 meses de direito de imagem e os 3 meses de salários atrasados. Mas um pequeno degrau de diferença técnica existe. E foi nele que o gol nasceu.

É nada, é nada, são três pontos fundamentais em um clássico estadual com casa cheia. O Flamengo agradece. A borda do buraco parece mais visível.

E o Botafogo? A luz no fim do túnel pode ser o trem chegando cada dia mais perto...

sábado, 26 de julho de 2014

Cruzeiro 5 x 0 Figueirense: Ninguém para

Uma das coisas mais legais do Campeonato Brasileiro, historicamente, é o equilíbrio. Sempre mais de um time consegue disputar bem boa parte da competição. Em algum momento alguém descola, mas normalmente o nível é muito semelhante. O próprio São Paulo em 2007, ano em que venceu com muita folga, não foi líder desde o início (lembram do nosso glorioso Botafogo?).

Mas um time é especialista em vencer de ponta a ponta, como o melhor dos pilotos de uma corrida: o Cruzeiro. Em 2003 foi assim (até teve uma disputa mais ou menos com o Santos) e em 2013 foi assim – esse último sem contestação.

E estamos vendo isso acontecer de novo. Dependendo dos resultados de amanhã, o Cruzeiro pode manter a distância atual de pontos para o segundo colocado: 8. Isso em apenas 12 rodadas. É um absurdo, quase um ponto por rodada!

Contra o Figueirense foi mais um passeio. Tudo bem que era o confronto entre o melhor time do Brasil hoje contra um dos piores – e em casa.

A questão é que de passeio em passeio, sem dar sorte pro azar, o Cruzeiro vai caminhando cada vez mais tranquilo em direção ao segundo título consecutivo.

E com um lembrete importante: estava disputando a Libertadores da América durante a primeira parte do Brasileirão. Obviamente eles não ligaram.

O Cruzeiro? Ninguém para.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Luxemburgo no Flamengo: pior do que tá, não fica

O título do post não é nenhuma mentira: com o time na lanterna da competição – 7 pontos em 11 jogos –, o que vier é rigorosamente lucro.

Vanderlei Luxemburgo é polêmico na essência. Foi o melhor técnico brasileiro de uma geração, montando times sensacionais e ganhando títulos. Nos últimos 10 anos ficou apenas nos estaduais e numa passagem modesta pelo gigante Real Madrid.

Volta ao Flamengo numa das piores horas da história do time carioca. Lanterna, vai precisar suar sangue pra evitar o rebaixamento para a segunda divisão – apesar dos dois pontos que separam ele do primeiro time fora.

Isso posto, vamos relembrar a saída dele do mesmo Flamengo em 2012.

Luxemburgo se indispôs com Ronaldinho Gaúcho – então estrela do time – no começo do ano. Depois, foi sendo “cozinhado em banho maria” pela diretoria até sua demissão e posterior contratação de Joel Santana. Ironicamente o mesmo Ronaldinho saiu do time pouco depois.

O trabalho tinha sido ruim? Não. O time vinha numa caminhada consistente no Campeonato Brasileiro de 2011, com momentos de irregularidade mais próximos do final da competição. Mesmo assim conseguiu a vaga na Libertadores da América do ano seguinte. Além disso, ficou oito meses invicto e conquistou o Campeonato Carioca (que só serve para fins de registro atualmente). Parte dos problemas daquele time se deve à velha conduta do mês de 90 dias do Flamengo na hora de pagar salários – o próprio Ronaldinho saiu do clube alegando isso.

Pior do que está não pode ficar. Luxemburgo é melhor treinador que o Jayme e muito melhor que o Ney Franco. Está vindo de um trabalho caótico no Fluminense e está sem mercado no momento.

Situação de oportunidade para ambos. Para o Flamengo conseguir sair logo dessa situação incômoda e para Luxemburgo recuperar um pouco de seu velho brilho como técnico.

Ambas as situações vão fazer bem ao futebol brasileiro. A torcida é grande.

Atlético Mineiro 4 x 3 Lanús: Vale, e muito

A Recopa, assim como quaisquer supercopas europeias, vale muito pouco. Jogo que normalmente é em começo de temporada, com os times frios, cheios de novidades sem entrosamento. Enfim, está lá mais por estar. Não necessariamente mostra quem é o “supercampeão”.

Mas em um jogo com drama até o final, prorrogação, sete gols, Brasil e Argentina em campo, estádio lotado, expulsões, golaços, falhas inacreditáveis e outros elementos, vale e muito.

Sim, o Atlético Mineiro fez valer algo que quase não significava nada. Do gol 100 de Tardelli no começo, passando pela virada relâmpago dos argentinos ao empate no final da primeira etapa, do terceiro gol adversário marcado no último minuto de partida, dos 2 gols no tempo extra e da falha monstra, tudo contribuiu.

E o Galo que não ganhava nada há décadas consegue mais uma taça para a sua sala de troféus. O estádio que viu a maior tragédia da históriada Seleção Brasileira viu sua redenção em um jogo de clubes. Não haveria uma tragédia nessa noite.

Vale, e vale muito.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Avaí 0 x 2 Palmeiras: Pegando no tranco

Eu tenho uma particular curiosidade de ver um técnico estrangeiro trabalhando bem em um time grande aqui no Brasil – ainda mais no momento atual do nosso futebol. Por isso torço muito pelo trabalho do Gareca no Palmeiras.

O começo foi aquela coisa bem mais ou menos, com duas derrotas. E eis que surge um jogo chave (e chato de ser jogado): fora de casa, na Copa do Brasil, contra um time da segunda divisão. Organizado, mas mesmo assim de segunda divisão.

O Palmeiras, então, passou na prova.

No início a situação estava complicada. O Avaí conseguia se apresentar de igual para igual, e até assustar. Da metade pro final do primeiro tempo o Palmeiras começou a ter o domínio.

Na segunda etapa pegou no tranco. O alviverde conseguiu encaixar boas jogadas e, num lance de muita confiança individual, certa habilidade para acertar a bola e um tanto de sorte, Felipe Menezes manda um bom chute de fora da área.

Com o jogo mais aberto, o Palmeiras conseguiu mais espaço para jogar e conseguiu aumentar com o mesmo Felipe Menezes oito minutos depois. A partir daí foi só administrar.

Uma apresentação segura depois do intervalo e um princípio de crise jogado para escanteio com a vitória. Nada melhor do que isso. Mantendo esse ritmo, o time pode, finalmente, pegar no tranco no Brasileirão.

terça-feira, 22 de julho de 2014

De Breitner a Dunga, nada vai mudar no Brasil

Finalmente Dunga foi anunciado oficialmente como novo técnico da Seleção Brasileira, com direito a coletiva e todos os trâmites naturais.

E ficou claro que nada vai mudar. Na verdade me sinto até ingênuo de ter cogitado o contrário, especialmente com essa diretoria da CBF aí presente.

Uma das respostas da coletiva me surpreendeu negativamente. Parte tática a parte (que nós temos a esperança que Dunga consiga oferecer mais do que da outra vez), o técnico apresentou sua visão sobre a Alemanha e o título.

Segue o trecho, publicado no globoesporte.com:

“Parece que todo mundo descobriu a Alemanha agora, mas eles sempre foram organizados e tiveram planejamento. Sempre tiveram centros esportivos. Morei lá e vi. É um país que tem tradição de dar importância aos esportes em geral, à formação dos atletas, convivência, educação... E agora acham que eles fizeram isso nos últimos anos? Sempre foi assim. O que aconteceu foi que a Alemanha encontrou uma geração de ótimos jogadores como já teve no passado. As peças encaixaram, deram tempo ao tempo.”

Engraçado que a fala dele contrasta justamente com o que diz Paul Breitner, que foi no programa Bola da Vez na ESPN Brasil em 2013 e cravou, profeticamente, que a Alemanha seria uma das maiores favoritas a conquistar o título no ano seguinte.

(ok, não precisava ser nenhum gênio para ver esse favoritismo, mas vale o registro)

O trecho importante da entrevista você pode ver clicando aqui. E eu copio abaixo um outro pedaço, dessa vez numa reportagem mais ampla sobre o futebol alemão publicada na ESPN.com.br:

"Não adianta mudar com jogadores de 17, 18 e 19 anos. E sim meninos de 11, 12 e 13 anos. E você realmente precisa mudar coisas que importam. É o caminho. Quando você diz que nosso último título foi em 1996, foi um dos divisores de águas no futebol alemão. Desde o início dos anos 90 o futebol muito e no início da última década. E nós estávamos pensando que éramos os melhores, que não tínhamos que aprender nada com ninguém. É a situação que o futebol brasileiro está hoje"

E mais outro:

“Mudamos o que se priorizava até então na Alemanha, que era a condição física. Esse trabalho demora 4, 5 ou 6 anos para ter efeito. E agora, nesses últimos dois ou três anos, podemos ver a primeira geração de 19, 20 e 21 anos. Um time jovem que tem um grande futuro pelos próximos quatro, seis anos. (...)”

No final das contas a pergunta que fica é: Será que os que cuidam do futebol brasileiro tem esse tal grau de miopia e soberba que são incapazes de ver, analisar e tentar aprender com o que estão fazendo fora do país, a ponto de achar que nada foi realizado?

Desisto da Seleção Brasileira, CBF e afins. Nada mudou e nem vai mudar.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ronaldinho Gaúcho e o prazo de validade

Tenho gastado muito espaço no blog ultimamente para falar de jogadores velhos, que já renderam o que tinham que render ou simplesmente que estão desinteressados. Mas parece que é disso que é feito o futebol brasileiro: medalhões, figuras caras que rendem pouco, eternas promessas, atletas incapazes de dar dois passes certos e jovens de algum potencial.

Feito o “momento deprê”, segue o baile.

Ronaldinho Gaúcho foi substituído do intervalo do jogo de ontem – fato inédito na passagem dele pelo Atlético Mineiro. Saiu de cara feia e foi direto pro vestiário, segundo matéria do Globoesporte.com.

O fato é que não vinha bem no primeiro tempo e o time melhorou com seu substituto. Ponto. Aliás, Ronaldinho não está jogando bem desde o final da Libertadores de 2013 e do título do Galo. Fez um final de temporada inconsistente ano passado e se apresentou muito mal no mundial de clubes. Nesse ano ainda não engrenou, e a parada para a Copa do Mundo parece não ter ajudado em nada.

Ninguém em sã consciência é capaz de falar alguma coisa da capacidade técnica do Ronaldinho Gaúcho. Joga um absurdo – quando quer. O problema é exatamente esse: querer. No Barcelona foi assim, no Milan foi assim e no Flamengo foi assim. O filme se repete: momentos de lampejo, um ou dois objetivos conquistados e total desinteresse. E pelo que consta os salários estão em dia por lá (ao contrário do Flamengo na época).

Bateu o prazo de validade. O contrato não era pra ter sido renovado no final do ano passado.

(Não querendo ser engenheiro de obra pronta – é fácil dizer isso hoje –, mas ele não vinha rendendo há algum tempo e se apresentou muito mal no mundial. Era de se pensar)

É uma pena que um dos maiores jogadores da história recente do futebol brasileiro trate assim a sua carreira.

A hora é do Atlético Mineiro olhar mais para si e para o seu desempenho esportivo do que para sua história. Valeu Ronaldinho pelos serviços prestados, mas agora é bola pra frente.

Gilmar Rinaldi vem aí

A CBF anunciou hoje de manhã o nome de Gilmar Rinaldi para coordenador de seleções da CBF. O ex-goleiro foi revelado pelo Internacional de Porto Alegre e teve passagens por São Paulo, Flamengo (onde foi campeão brasileiro em 1992) e Cerezo Osaka, além de estar no elenco campeão do mundo pela Seleção Brasileira em 1994. Atuou durante anos como agente de atletas (sendo um dos seus clientes Adriano Imperador) e, num curto período, foi gerente de futebol do Flamengo.

Não é exatamente o currículo mais vasto da história para essa função. O curioso é que também não é um nome forte – como eram os de Parreira e Felipão. A intenção, talvez, seja de “oxigenar” os quadros da CBF, apresentar situações novas.

É um risco. Gilmar pode até ser competente e fazer um ótimo trabalho – estou torcendo por isso – mas, se a intenção era um “choque” e uma “mudança radical”, ela não aconteceu. A pressão vai ser gigantesca em cima dele.

Vamos aguardar e ficar na torcida por melhoras – porque a torcida por mudanças fracassou miseravelmente.

Flamengo 1 x 2 Atlético Paranaense: Justiças e injustiças

Mais uma derrota do Flamengo em casa e Ney Franco continua sem vencer no comando do time da Gávea. Quanto mais o rubro negro espanta a assombração, mais pra perto ela vem.

O time entrou desorganizado. Mesmo com três zagueiros, o Atlético conseguiu achar um verdadeiro rombo na zaga pra marcar o primeiro gol. Depois de muito “bumba meu boi” e pressão sem coordenação, o rubro negro chegou no empate.

A entrada de Mugni ainda no primeiro tempo deu estabilidade à equipe – e a de Luiz Antônio tirou um zumbi em forma de Elano para dar velocidade. Na segunda etapa o time melhorou, chegando muito perto de marcar o da virada.

Mas como o futebol não liga pra justiças, veio o segundo gol do Furacão e o último prego na tampa do caixão. Uma ou outra chance nos minutos finais, nada de relevante.

Ah, a velha ironia. Na hora que o Flamengo jogava melhor, gol do Atlético. Isso talvez tenha sido uma grande injustiça. O placar não; esse foi justo.

O rubro negro carioca dorme na lanterna do Brasileirão. E acende a luz vermelha.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Grêmio 0 x 0 Goiás: Parada pra quê?

Nesse reinício de campeonato brasileiro muito se falou de parada da copa pra cá, parada da copa pra lá, treinamento, tempo para recuperar, para se preparar...

Pra quê?

O jogo na Arena do Grêmio foi fraco. O time da casa apresentou um repertório pobre – apesar do elenco bem interessante. Giuliano, que veio lá de Deus de livre congelado, até tentou alguns lances interessantes. Talvez por falta de ritmo ou de melhor adaptação errou muito.

Barcos teve uma ou duas bolas com condições de chutar bem pro gol, mas passou em branco e saiu vaiado. Isso de um atacante que até outro dia sonhava com convocação pra Copa do Mundo. Ler isso hoje chega a ser cômico.

Muita ligação direta dos dois lados e pouca criatividade. Se alguém esperava um lapso de inspiração vindo da Copa, podem esquecer. A inspiração parece ter vido da Seleção Brasileira, isso sim.

Já o Goiás conseguiu o que queria: arrancar um ponto fora de casa contra um adversário que, teoricamente, é um dos candidatos ao título. Até teve chances de abrir o marcador na segunda etapa.

A pergunta continua: a parada pra copa ajudou?

Do que eu vi hoje, não.

Robinho, fenômeno imortal das especulações de transferência

Desde que Ronaldinho Gaúcho voltou ao Brasil em 2011, os dois jogadores mais cotados pra retornar eram Kaká e Robinho – sempre ele. O primeiro acertou o seu retorno ao São Paulo. O segundo é um fenômeno.

Nos últimos 4 anos, Robinho teve meia dúzia de convocações, uma passagem extremamente irregular pelo Milan e várias supostas “negociações” com clubes brasileiros.

É verdade que relativizar o desempenho no Milan é preciso: o clube italiano passa por uma crise impressionante, ficando em 8º lugar na última temporada – atrás de “potências” como o Parma e o Torino no campeonato italiano.

Mas mesmo assim a eterna promessa do Santos, inexplicavelmente, domina a área de especulações dos noticiários esportivos. A bola da vez, segundo matéria do globoesporte.com, é o Santos.

Um milhão por mês? É brincadeira, só pode.

Notícia plantada ou não, empresário tentando arrumar um lugar, pode ser qualquer coisa.

Só não pode ser sério. Mesmo com o nível baixo de competição do campeonato brasileiro, não faz qualquer sentido um clube pagar essa quantia ridícula por um jogador como Robinho.

Pra finalizar, um lembrete: ele quase foi convocado porque, pasmém, “era bom de grupo”, segundo rumores. Afinal, todo time que se preza precisa de alguém pra tocar o pandeiro...

terça-feira, 15 de julho de 2014

Botafogo, buraco negro e crise

Eu juro que tento fugir do lugar comum quando escrevo os meus textos, mas esse não teve como evitar: de fato existem coisas que só acontecem com o Botafogo.

Já são três meses de salário atrasado em carteira e mais cinco meses de direitos de imagens, segundo matéria do globoesporte.com. O pior de tudo: eles têm menos culpa do que se imagina.

Vamos voltar, claro, àquela velha lenga lenga de gestões absurdas no passado, montanha galopante de dívidas, juros crescentes, aquela coisa toda. Mas o fato é que mal ou bem o Botafogo vinha conseguindo uma estabilidade nos últimos anos.

E eis que surge o misterioso problema no teto do Engenhão, estádio que administra e que tem a concessão. 6 anos depois de pronto, o estádio precisa ser fechado para reformas. Beira a insanidade.

Sem usa principal fonte de renda e tendo que pagar para o nefasto Consórcio Maracanã um valor abusivo para jogar futebol em casa, o clube começa a sofrer de um efeito dominó nas suas contas. Seedorf foi, Vitinho teve que ir, Lodeiro disse tchau. Jovens são colocados na fogueira para resolver – uns conseguem e outros não, como é normalmente.

Com uma das menores torcidas entre as 12 grandes do Brasil e um programa de sócio torcedor apenas tímido (cerca de 11 mil sócios), o Botafogo precisa se virar nos 30 para conseguir sair desse atoleiro.

As duas últimas rodadas do Brasileirão antes da Copa (vitória contra o Palmeiras e empate com o Corinthians, ambos em São Paulo) deixam alguma esperança. Mas o cenário piora gradativamente.

A esperança por dias melhores é a última que morre. Mas hoje respira por aparelhos.

Pra quê Pato quer voltar, se ele nunca veio?

Imagine um desperdício no futebol. Agora vá aumentando até perder a medida. Próximo de alguma coisa na escala do absurdo, você tem Alexandre Pato.

A revelação que encantou o Brasil em 2006 no Internacional, que foi brilhar no Milan ainda muito jovem, que seria o herdeiro da camisa 9 amarelinha, que já foi de Ronaldo, Romário e Careca.

Veio pro Brasil a peso de ouro brilhar no atual campeão mundial. Fracassou miseravelmente. Foi para o São Paulo pra ficar sem poder jogar (!) por alguns meses, até o Brasileirão começar.

Veio a Copa do Mundo, o período de treinos. Veio Kaká, Alan Kardec e um belo time.

E o cara quer voltar pra Europa?

Eu não sei se é bem pena que eu sinto de um cara desses. Teve quase tudo que poderia desejar aos seus pés (inclusive a filha do dono do seu ex-clube e praticamente da Itália, deuses!), e vai jogando aos poucos a carreira no lixo.

Alexandre Pato nunca veio pro Brasil. Pelo menos não esteve presente. Jogou bem um jogo aqui e outro ali, pra nunca mais.

Pra quê ele quer voltar, se ele nunca veio?

Paciência, torcida sãopaulina, vocês precisam é de muita paciência até o fim do ano...

Brasileirão: aqui a bola não rola?

Nessa quarta feira o nosso campeonato nacional recomeça. Choque de qualidade a parte por causa da diferença do nível técnico entre o Brasileirão e a Copa do Mundo, teremos que aturar também um campeonato onde o jogo não flui.

Motivos (ou desculpas) não faltam: gramados ruins, excesso de faltas marcadas – as reais e as simuladas –, demora no recomeço do jogo e, é claro, a falta de qualidade do jogo em geral.

É óbvio. Em um futebol que nos últimos anos só se faz com bolas alçadas do campo de defesa direto paa o ataque (alguém lembrou da Seleção?), a chance dela sair do gramado é grande. Dá-lhe jogo parado. Isso sem contar as faltas.

Lógico que existem as equipes mais técnicas, como o líder Cruzeiro, que fazem um bom jogo pelo chão, visando a troca rápida de passes. Mas são as felizes exceções.

Cuidado com o baque. Vai recomeçar o Campeonato Brasileiro, o torneio onde a bola não rola.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Pós-ressaca: derrota do Brasil não foi acidente

Esse texto custou a ir pro ar por dois motivos: o primeiro e de caráter mais prático é que eu não estava em casa logo que a partida contra a Holanda terminou e o segundo é que eu quis esperar um pouco mais a repercussão desse jogo (e do fim da Copa do Mundo) pra postar.

Isso posto, não dá pra dizer mais que a derrota pra Alemanha foi um acidente.

Sendo bem sincero, os 6 gols de diferença foram, sim, exagero. Talvez em condições normais de temperatura e pressão o placar fosse menos dilatado (ainda mais quando se tem Felipão no banco – um técnico que deveria cuidar da solidez defensiva na teoria). Um 3x1 seria um placar mais condizente com a diferença entre os dois times.

E veio a disputa do terceiro lugar, que van Gaal disse abertamente que despreza. Pro Brasil ainda teria um certo valor, talvez devolver um pouco da honra pro torcedor ou simplesmente vencer uma grande potência do futebol mundial.

Enfim, nada disso aconteceu. Mais uma sapatada, dessa vez mais “normal”. Mas o começo do jogo, com aquela escapada e o pênalti-que-não-foi (e a expulsão que deveria ter sido), deu a impressão clara de “Alemanha está aí!”. O Brasil endureceu o jogo, conseguiu até ter lampejos do que pode-se dizer ser um estado pré-mesopotâmico de bom futebol. O 3x0, pela diferença técnica, foi justo no final das contas.

O emocional foi pro vinagre, o respeito pelo técnico e pelo futebol brasileiro também. Deu tudo errado nessa última semana de Copa. Se antes havia uma estrutura técnica, tática e mental minimamente organizada (ou equilibrada em palafitas improvisadas, quem sabe), tudo ruiu. A própria presença de Neymar no banco de reservas, depois da entrevista mais lúcida da semana na Granja Comary, foi um elemento inexplicável. Ou inócuo. Adiantou alguma coisa? Não.

Acabou que Luiz Felipe Scolari foi mesmo demitido, junto com toda a sua comissão técnica. Juro que não me surpreendo se me contarem que isso só aconteceu depois da derrota na disputa do terceiro lugar. Aliás, tem poucas coisas vindas de quem comanda o futebol brasileiro que me surpreenderiam.

Vida que segue. Daqui a pouco tem Brasileirão recomeçando. Espero que pelo menos 1% da lucidez futebolística que tivemos nessa Copa do Mundo apareça nos gramados por aqui.



Sou um bobo esperançoso, né?

10 motivos pelos quais a Copa do Mundo de 2014 não vai ser esquecida

 Mais uma Copa do Mundo se foi. Antes, porém, que sejamos acometidos com uma intensa DPC – ou Depressão Pós-Copa – vamos relembrar 10 fatos marcantes sobre essa Copa do Mundo de 2014, que ficará marcada para sempre?

1- Festival de gols na primeira fase
Essa Copa do Mundo teve um começo absolutamente fulminante no que diz respeito ao número de gols marcados. Chegou, em determinado momento, a ter uma média superior a três por jogo – maior que qualquer campeonato nacional. Óbvio que com o começo da fase aguda, confrontos maiores e partidas mais estudadas, essa média diminuiu. Mas a primeira fase desse ano, sem dúvida, entrou na história.


2- Americanos apaixonados por Copa
Talvez seja apenas uma moda causada pela Copa do Mundo – que nem para muitos torcedores aqui no Brasil – mas é fato que o futebol norte americano marcou a sua torcida nesse ano. As audiências batiam recorde atrás de recorde enquanto os comandados de Klismann avançavam na campetição. Os vídeos de americanos comemorando em bares e outros lugares públicos rapidamente se tornaram viral na internet.


3- Salvador
Se existe um lugar que ficou marcado no imaginário popular nessa Copa foi Salvador e seu estádio Fonte Nova – ou, como foi carinhosamente apelidado, “fonte de gols”. Alemanha, França e Holanda foram alguns dos times que encantaram a torcida baiana com ataques sensacionais. Com certeza vai fazer falta uma Salvador na próxima Copa do Mundo.


4- Alemanha causando na Bahia
Na verdade causando no Brasil em geral. Eles, que sempre tiveram esse estigma de ser um povo frio, deram um verdadeiro show de simpatia. Cantaram o hino do Bahia, dançaram com os índios, tiraram trocentas fotos para redes sociais, interagiram com o povo local, investiram na infra estrutura de Santa Cruz Cabrália, doaram dinheiro, etc. Simplesmente causaram, mas no sentido ótimo da palavra. A passagem dos alemães por lá não será esquecida tão cedo.


5- Torcidas sul americanas
Um show a parte. Todos os países do continente jogaram em estádios lotados com seus torcedores empolgados. O fenômeno “Bhogotá” foi apenas um dentre eles. Boa parte dessa “surpresa” pode ser atribuída à frieza com que os europeus encaram futebol, em suas arenas que mais parecem grandes teatros. Ficou o registro, e espero que tenha tocado o coração de alguém na FIFA.


6- Jogos emocionantes
Mais do que partidas com muitos gols, tivemos partidas com muitos gols nos últimos minutos. Como não lembrar da Bélgica, vencendo a Rússia na bacia das almas, ou dos Estados Unidos desempatando o jogo contra Gana com um gol de um garoto de 19 anos no finzinho? A vitória da Suíça contra Equador, o gol da Argentina contra a própria Suíça nas oitavas... Bons jogos com gols decisivos no final não faltaram.


7- Espanha
O que era um feito que só o Brasil tinha conseguido no século passado – ser campeão de uma Copa do Mundo e cair na primeira fase da copa seguinte – já foi repetido três vezes nas 4 últimas: a França caiu em 2002, a Itália em 2010 a Espanha agora em 2014. Com uma base envelhecida e sem encontrar sequer a sombra do bom futebol que lhe deu duas Eurocopas e uma Copa do Mundo inédita, os espanhóis foram eliminados muito antes do que se imaginava.


8- Costa Rica
Merece um ponto só para eles. Em um grupo “da morte” antes da Copa começar – e apontada como eliminação mais garantida da competição – os costarriquenhos mostraram que eram os únicos “vivos” do grupo. Jogando um futebol consistente, venceu Itália e Uruguai (este último de virada) e empatou, já classificada, com a Inglaterra. Depois eliminou a Grécia e caiu numa heróica disputa de pênaltis com a Holanda de van Gaal e...


9- Krul
A figuraça que garantiu a vaga nas semi finais da Copa. Ninguém sabia de nada – ele mesmo foi avisado no ônibus de que entraria em campo caso a partida fosse para os pênaltis. O fato é que contrariando tudo que a gente (acha que) conhece de futebol, o goleiro reserva entrou no último minuto da prorrogação da Holanda contra a Costa Rica, acertou o canto de todas as cobranças de pênalti e agarrou dois. Nas semis não entrou contra a Argentina – e o seu time perdeu com uma fraca atuação do titular Cilessen nas penalidades.


10- Alemanha Campeã
Eles merecem essa outra citação. Jogando um futebol moderno, com um batalhão de jovens meias talentosos (Özil, Müller, Götze, o próprio Reus que foi cortado), um esquema eficiente e um técnico meio louco, foram o primeiro país europeu a ganhar uma Copa do Mundo nas Américas. A seleção alemã hesitou, deu pinta de que poderia se complicar em algumas partidas, mas foi ganhando corpo e forma ao longo da competição. Título mais do que merecido e, se tudo der certo, pode ser uma ótima influência para o futebol mundial.

domingo, 13 de julho de 2014

Alemanha campeã do mundo!

O futebol alemão merece. Depois de 24 anos do último título – exatamente contra a Argentina na final em 1990 – veio o quarto título.

Existe palco melhor no mundo para isso do que o Maracanã? Óbvio que não.

Eles vieram e custaram a convencer. É verdade que o jogo contra Portugal foi um passeio, mas muito se pode por na conta da expulsão de Pepe. Depois veio aquela partida duríssima contra Gana, onde quase a vaca foi pro brejo, como diria João Saldanha. O último jogo modorrento contra os Estados Unidos veio só para confirmar o primeiro lugar e o favoritismo.

Começa a fase decisiva. Um jogo impróprio para cardíacos contra a Argélia, com vitória na prorrogação. Depois o jogo que talvez tenha confirmado o favoritismo, apesar de ainda ser abaixo da média: a França, uma das sensações da primeira fase, sofreu nas mãos dos alemães.

E vou falar o que da sapatada histórica de 7x1 contra a seleção brasileira? Domínio do começo ao fim da partida e um adversário completamente transtornado. Vai virar um mito, uma lenda, das maiores histórias de Copa do Mundo que já se viu.

A final poderia ter sido melhor jogada. Muita marcação e meio pouco inspirado. Foi preciso vir um garoto de 22 anos do banco resolver a parada. E como resolveu: gol digno dos melhores centro avantes – coisa que ele, aliás, não é. Um meia avançado que entrou como falso 9 ensinou o nosso Fred como se resolve uma parada dura.

A Alemanha, do planejamento, da geração que encantou o mundo em 2010, conquista a Copa com a maior justiça do mundo. Isso fora tudo que aconteceu fora de campo: simpatia, demonstrações de carinho com o Brasil e com o povo brasileiro, vontade de participar e de aprender, respeito pela nossa cultura e nossa tradição.

Pensando bem, os alemães eram compeões muito antes dessa final.

Deutschland, Weltmeister 2014!

Alemanha 1 x 0 Argentina: Jogo duro pra um campeão merecido

O time alemão, aquele que veio se preparando há 14 anos, montando uma base sólida, planejando, cuidando dos seus jovens e de sua liga local, é campeão do mundo.

Não foi um jogo fácil. Poucas chances reais de gol nos 90 minutos culminaram no 0x0 e na prorrogação. A marcação estava muito acertada dos dois lados.

A Argentina se utilizou do caminho que o Brasil tentou e fracassou: o lado esquerdo da defesa, com o hesitante (e definitivamente PÉSSIMO na lateral) Howedes. Algumas boas chegadas, mas nenhuma com grande efeito. O próprio Messi caiu por ali pouquíssimas vezes.

Já a Alemanha tinha a bola e tentava bolas enfiadas e dribles pra chegar na frente do goleiro Romero, mas o setor responsável pela armação não estava em um dia inspirado. Schweinsteiger e Kroos não conseguiam achar os espaços e muitas vezes se perdiam na marcação acertada.

E eis que entra Götze pra decidir.

Prorrogação difícil, muito pegada, a Alemanha jogando melhor e não conseguindo matar o jogo. Em um lance de craque, digno de uma final de Copa do Mundo, Götze recebe a bola pela ponta esquerda da grande área, domina com um toque e finaliza com outro. Sensacional.

E Messi? Ele teve uma cobrança de falta no “pé bom” logo depois, praticamente o último lance do jogo. Mandou a bola na lua e saiu com uma risada sem graça. Final de Copa melancólico pro craque argentino, que poderia (forçando MUITO a barra) chegar próximo de Maradona caso ganhasse na final. Acabou levando, injustamente, o título de melhor da Copa.

Parabéns para a Alemanha, tetracampeã do mundo e o primeiro país europeu a ganhar uma Copa nas Américas!

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Van Gaal está certo: terceiro lugar não vale nada

Antes de criticar a própria existência da disputa do terceiro lugar como uma partida numa Copa do Mundo, eu tento entender o motivo dela existir.

Pelo princípio da competitividade, a disputa do terceiro lugar tem um valor muito relativo. O jogo deste sábado, entre Holanda e Brasil, não vale rigorosamente nada para os dois: o Brasil, de ressaca violenta depois da surra que levou, encara uma Holanda que tentou seu primeiro título na história depois de ser vice pela terceira vez na última Copa. Terceiro lugar pra esses dois gigantes? Pra quê?

Claro que existem outros casos. Em 1994, era interessante para Suécia ou Bulgária o terceiro lugar, assim como a Croácia brigou muito em 1998 e a Turquia e Coréia do Sul também em 2002. A própria seleção de Portugal tentava igualar uma campanha histórica em 2006. Mas são situações interessantes para países de pouca tradição em Copas – o que não é o caso neste ano.

A partida existe mesmo é para vender ingresso e ter mais jogos na Copa do Mundo. Dinheiro, meus amigos. O pior é que normalmente é um jogo divertido, com as duas seleções visando mais o gol do que normalmente, já que têm pouca responsabilidade. Tirando isso, é meio alheio a qualquer coisa.

Para fins de competição, não gosto desse jogo. Mas se ele precisa existir, eu enxergo uma alternativa interessante: a disputa do terceiro lugar acontecer como preliminar da grande final. Assim, o “evento de encerramento” englobaria a própria festa, dois jogos de futebol,personalidades dos países envolvidos, a “passagem de bastão” simbólica para a próxima sede, etc. Um grande espetáculo de entretenimento de várias horas.

Mas do jeito que está hoje eu tenho a tendência a concordar com Van Gaal: não vale nada.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A zoeira não pode parar: Felipão e Parreira continuam?

O excelente Paulo Vinícius Coelho deu a notícia ao vivo, na ESPN Brasil, e que vocês podem conferir aqui: A tendência é a CBF propor para Felipão e Parreira que continuem com o seu trabalho.

É realmente incrível como o futebol parece ser um mundo completamente descolado da realidade humana.

Você, trabalhador do meu Brasil, coloque-se no lugar deles: você tinha um projeto ambicioso que deveria ser cumprido em 7 etapas. Consegue, mal e porcamente, passar pelas 5 primeiras. Quando chega na sexta, faz uma besteira grotesca, não consegue corrigir e tudo vai por água abaixo, no maior vexame da história de 100 anos da sua empresa.

Agora imagina que você, depois disso tudo, ainda é cogitado para continuar na liderança desse projeto.

Pergunte ao BAP o que ele acha:



Não tenho mais nada a acrescentar a essa insanidade. Enquanto a Confederação Brasileira de Futebol continuar a ser gerida por pessoas que não entendem E não gostam de futebol, é isso que veremos.


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Holanda 0 (2) x (4) 0 Argentina: Tá explicado

Há poucos dias, quando van Gaal tirou Cillessen e colocou Krul, veio uma chuva de pedras intensa. Parecia loucura tirar um goleiro que fora muito bem na Copa do Mundo até ali para colocar um reserva, frio, para defender pênaltis. Obviamente o titular saiu irritado – mas parece que passou logo, já que foi o primeiro a abraçar o companheiro depois da vitória sobre a Costa Rica.

E eis que, hoje, Cillessen teve a sua chance contra a Argentina.

Tá explicado porque Krul entrou.

São duas habilidades diferentes: defender durante um jogo normal e defender pênaltis. Ter uma não quer dizer que o cidadão tenha o outro.

Enquanto Krul teve a malícia, a malandragem de fazer os costarriquenhos mudarem o canto, atrapalharem suas cobranças e ir em todas as bolas – algumas ele não alcançou, lógico – Cillessen ia frouxo. Ou não alcançava ou, como no caso da última cobrança, não ia com a volúpia necessária pra defender.

Van Gaal mostrou hoje que estava certo nas quartas.

Nos 120 minutos de bola rolando, tudo o que não vimos ontem: marcação intensa e ocupação de espaços. Mascherano foi um monstro no combate e nem, pasmém!, Messi conseguiu ser efetivo. Uma ou duas escapadas.

Do lado holandês, van Persie parece ter deixado seu futebol na primeira fase. Robben, coitado, até tentou com suas tradicionais corridas e cortadas, mas hoje nada aconteceu. Sneijder, então, parece que não veio pra Copa.

A Holanda encara o Brasil num jogo modorrento sábado, enquanto a Argentina joga contra a Alemanha domingo – repetição das finais de 1986 e 1990.

Tá acabando a Copa, amigos...

O escudo e a peneira

Ontem foi o dia em que quase nada podia dar errado. Só que aconteceu uma catástrofe sem precedentes.

Explico.

O Brasil era o favorito natural por jogar a Copa do Mundo em casa, ter 5 títulos no currículo, por ter vencido a Copa das Confederações, etc. Tudo aquilo que a gente já sabe. Perder nas oitavas pro Chile ou nas quartas pra Colômbia jogando aqui seria um vexame histórico.

Eis que passamos para a semifinal, perdemos o nosso capitão e o nosso melhor jogador (que, verdade seja dita, não estava jogando bem). Com isso, ganhamos nosso escudo perfeito.

Perfeito porque qualquer situação envolvendo Brasil, Alemanha, Holanda e Argentina seria considerado plenamente normal. São times de camisa muito pesada, de grande história e de material humano suficiente para ser campeão do mundo, qualquer que fosse.

E está feito o escudo: a Seleção Brasileira, sem o seu capitão e o seu craque, poderia perder pra Alemanha que seria “perfeitamente normal”. Poderia ganhar também, “normal”. Poderia perder ou ganhar a final, o terceiro lugar, enfim. A obrigação doentia de ganhar (citada pelo próprio Parreira antes da Copa começa) acabara.

Ah, o futebol e suas ironias. O escudo virou peneira.

Perder para esse ótimo time alemão é normal. Tomar uma goleada acachapante de 7x1 com direito a baile e apagão total da defesa, em casa e com o time sem ter a menor noção de como reagir, não.

Ainda estamos digerindo o que aconteceu. Não dizem que é difícil para quem está vivenciando conseguir notar a história passando na frente dos olhos? Pois é. O que vimos ontem foi a história sendo escrita.

A pior derrota da história da Seleção Brasileira, a maior diferença de gols numa semifinal de Copa do Mundo, Klose passando Ronaldo como maior goleador da história.

Sabe o dia em que absolutamente tudo dá errado? Pois é.

O escudo era perfeito. O problema é que o tiro saiu pela culatra. Virou peneira.

Agora sai de baixo, porque tá voando pra todo lado.

Atos de uma tragédia

Às vezes nos surpreendemos com a ironia como as coisas caminham. Quando falamos da Seleção Brasileira e relacionamos com a Copa do Mundo no Brasil, vimos cenários completamente distintos entre si mas que, de alguma forma, acabaram se comunicando. Da pior maneira possível, evidentemente.

Primeiro tivemos a euforia, principalmente pós-Copa das Confederações. O time se apresentou bem, conseguiu vitórias expressivas e o título em cima da atual seleção campeã do mundo e bi campeã europeia. O clima de festa e de confiança era natural. Jogar em casa sempre dá um “plus a mais”, como diria o outro, no favoritismo. Talvez o time não tivesse todos os artifícios técnicos para ser considerado “favorito absoluto”, mas sem dúvida esses fatores contribuíram.

Em segundo lugar veio a desconfiança. A Seleção Brasileira jogou mal todos os jogos, com lampejos em alguns momentos de alguns jogos – e eu tratei deles aqui no blog. O time era dependente de Neymar para praticamente conseguir ir a qualquer mísero lugar em campo. Vinha dando certo, é bem verdade. Mesmo na bacia das almas o time conseguia as vitórias, e foi avançando fase após fase.

Aí veio o desespero com a suspensão do Thiago Silva e a lesão do próprio Neymar. E agora, quem poderá nos defender (e atacar os outros)? Veio a “união nacional” em torno da recuperação do craque, o “jogai por nós” e tudo que vimos. Talvez muito mais regado por esperança do que uma confiança propriamente dita. Eu mesmo cheguei a achar que o Brasil pudesse jogar melhor sem o craque do Barcelona, como escrevi. Errei miseravelmente, claro.

Em quarto e último lugar, o vexame. Nem o mais pessimista brasileiro imaginava uma surra de tal magnitude. A Alemanha é melhor, tem um meio de campo talentoso, consegue fazer transições interessantes, tem um goleiro dos melhores do mundo e um técnico bom (mas de hábitos higiênicos discutíveis), mas o que aconteceu em campo teve requintes de surrealidade. A surra foi tão grande que parecia um sonho ruim ou uma coisa que estava acontecendo em outro plano. A Seleção pentacampeã do mundo tomando sete gols em casa e sem poder reagir? Não podia ser verdade. Mas era.

O brasileiro é um eterno romântico quando se trata de futebol. Amamos acreditar e torcer – me incluo nesse time. A derrota já é doída. O esculacho, com o perdão do termo chulo, é meio anestésico. Confesso que não sei até agora de onde veio o murro.

E eu tenho uma péssima notícia: tem jogo do Brasil nessa Copa do Mundo ainda. Sábado, em Brasília. Confesso que tenho uma curiosidade mórbida de saber como vai estar o clima do estádio e do time.

Vida que segue. Hoje tem a segunda semifinal, e promete ser um jogaço. E dessa vez eu espero que seja.


terça-feira, 8 de julho de 2014

Brasil 1 x 7 Alemanha: Apoiou nas cordas e tchau

Torci. Mas torci muito mesmo por uma vitória hoje. Fui para BH, vi como a cidade e o povo de lá são sensacionais. Mereciam a vitória do Brasil. E o Rio de Janeiro, como é o óbvio ululante, merecia ver um mísero jogo do Brasil.

Nem um nem o outro vão acontecer.

Problema organizacional e todo o resto está aí há não sei quantos anos e vai continuar depois da Copa do Mundo. Teremos bastante tempo para tratar.

Ao campo e bola. E um time só. E um tempo só.

O Brasil jogou bem os primeiros 5 minutos de jogo, por mais incrível que possa parecer essa afirmação. Conseguiu até esboçar que ia espremer a Alemanha no campo de ataque até que o gol saísse – mais ou menos como aconteceu na final da Copa das Confederações, contra a Espanha. Não saiu o gol e a Alemanha começou a conquistar terreno.

Quando eles avançaram as linhas e se sentiram confortáveis, começou o desconforto do Brasil. Bernard e Hulk espetavam pelas pontas, Fred marcava os dois zagueiro alemães (risos), oscar vinha buscar e brigava sozinho contra um meio de campo inteiro, Luiz Gustavo e Fernandinho não achavam espaço. O resumo disso tudo foi uma troca de passes entre os 4 do sistema defensivo: bola nos zagueiros, abre pros laterais, volta pros zagueiros, passa pro volante e retorna de novo e de novo e de novo. Saída de bola? Chutão pra frente pro trio de ataque dividir com a zaga alemã. Repetindo: zaga alemã. Hummels e Boateng de 1,92, acompanhados de Höwedes (zagueiro improvisado) de 1,87. Fred tem 1,86, Hulk tem 1,80 e Bernard 1,64.

Por que os chutões? O meio de campo estava despovoado, bem marcado e não conseguia fazer transições. A Alemanha gostava do jogo, ganhava terreno e o Brasil não acertava os passes. Os chutes eram o que sobrava (chutão é um eufemismo para “devolver a bola pro adversário”).

Obviamente não deu certo.

Aí veio o primeiro gol da Alemanha. E o Brasil foi às cordas. No boxe isso acontece quando o lutador recebe um golpe forte e vai no limite do ringue – as populares “cordas” – e fica, meio inerte, apanhando. Ainda não é um nocaute, mas quase lá.

Faltou, talvez, um Bellini pra buscar a bola dentro do gol, pedir calma e sair com classe. Desesperado para dar uma resposta aos torcedores em casa, o Brasil saiu “na louca”, não arrumou o sistema defensivo e foi castigado impiedosamente.

A sequência de gols foi consequência do primeiro. O time simplesmente pegava a bola e saía, não buscava um pingo de arrumação antes. Nem emocional (mais importante nessa hora) e nem tática, nada.

O que se viu entre os 10 e os 29 minutos do primeiro tempo foi um bando correndo atrás de uma bola contra um time profissional. Os 5 x 0, então, nasceram naturalmente.

A partir daí acabou o futebol. O final do primeiro tempo, o segundo, as alterações, os gols perdidos, as defesas do Neuer, a displiscência dos alemães; tudo isso foi mentiroso. Ninguém cogitou realmente uma virada depois que a partida estava 5x0. A Alemanha tirou o pé, o Brasil foi pra cima tentando dar uma resposta de honra, sofreu dois gols em contra ataque e marcou, finalmente!, o seu de honra.

Só. Nada digno de nota maior que um parágrafo. Tentar tirar conclusões em cima de qualquer coisa que aconteceu depois dos 29 do primeiro tempo é perda de tempo. “Ah, mas povoou o meio de campo, arrumou o problema da escalação inicial, o time jogou melhor!”. Bobagem. Nenhum alemão estava mais levando a partida a sério. Tinham uma final, dali 5 dias, pra pensar a respeito.

Ao longo desses dias eu vou soltando alguns textos com conteúdo mais abrangente – é ÓBVIO que eu sei que essa derrota se deve muito mais a fatores que vêm de muito longe do que simplesmente a esse “apagão”. Mas agora, nada disso importa.

Sabe o que é o mais irônico disso tudo? Os gols saíram tão rápido que não deu tempo para ter a fase “triste” da derrota – que nem 98, quando o último gol foi no segundo tempo. Os gols apareciam, e eu fui do estágio “esperançoso” com o 1x0 até o “puto demais” com o 5x0. Imagino que compartilhe o sentimento com várias pessoas.

Vida que segue, tem muita coisa pra se discutir ainda. Mas por hoje é só.

A bola, o coração e o Mineirão: Vai Brasil!

Hoje é o dia mais importante da história do futebol brasileiro.

É o dia em que o Brasil pode chegar na sua segunda final em casa de Copa do Mundo. É o dia em que podemos chegar mais perto da história.

Dois passos, apenas dois passos. Um em Minas Gerais e o outro no Rio de Janeiro.

O sexto título, sonhado há 8 anos, pode vir em solo nacional.

Mas para isso é preciso passar da Alemanha.

Aquela, do grande time que encantou o mundo em 2010 e que todos falavam que “vai chegar forte em 2014”. Aquela do volante de nome indigitável que acabou com a Argentinta na mesma Copa. Aquela que aplicou um sapato histórico na seleção de Portugal. Aquela que tem uma geração incrivelmente talentosa de meias rápidos e envolventes. Aquela em que o atacante empatou com Ronaldo em número de gols em Copa do Mundo.

E o que a gente tinha?

Um moleque. Um gênio de 22 anos que encantou o Brasil e agora tenta encantar a Espanha. Um cara que nos levou durante a primeira fase.

Por força do destino – e do joelho – assiste do camarote os próximos jogos. Ou de casa. Tanto faz.

Perdemos nessa Copa do Mundo o que faz o Brasil ser brasileiro, o que nos faz ser reconhecido mundo afora dentro das quatro linhas. O que temos de projeto futuro para recuperação do futebol arte (quem sabe?) não joga mais.

Ainda estão lá os outros 22 jogadores. Com tanta vontade quanto.

Perderam sua referência. Talvez seu ídolo, seu grande porto seguro em campo. Perderam o “toca no homi que ele resolve!”

Mas eles não perderam a si mesmos.

E, o mais importante de tudo, não perderam nenhum jogo.

Há dois anos era um time desacreditado. Há um ano recuperou a confiança de um povo. Há 20 dias não se apresentava bem. Há 4 dias perdeu seu melhor jogador.

Hoje é dia de jogo. 8 de julho de 2014, no Mineirão, Brasil encara a Alemanha. E vamos ganhar.

Vamos ganhar no grito e no coração, na raça, na chuteira que rasga a grama nova, no choro de uma multidão, na vontade de alcançar a bola mais perdida da história da humanidade, errar e tentar de novo e de novo.

Porque no Mineirão quem manda está de amarelo. E“nóis com os alemão vamos se divertir”.

Vai Brasil! Busca esse hexa!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Paradoxo: Talvez o Brasil jogue melhor sem Neymar

A ausência de jogos da Copa do Mundo nos faz pensar muito – sobre futebol, lógico. Todo o imbróglio da punição de Zúñiga, a revolta geral, o boato de que o atacante teria condições de jogar a final... Se não tem jogos, vamos falar do que está por trás. Mas eu já tratei desses assuntos aqui. Prefiro falar de campo e bola. E eu acho que estamos diante de um grande paradoxo.

Explico: eu acho que o Brasil pode se apresentar melhor contra a Alemanha sem Neymar do que com o craque em campo.

Passada a chuva de pedras que recebi depois do parágrafo acima, vou tentar explicar esse ponto.

O brasileiro em geral gosta do craque. Historicamente valoriza muito mais o cara que decide em um lance individual do que uma grande atuação coletiva como um todo – e isso pode-se ver nas transmissões televisivas brasileiras, quando comparadas com as dos campeonatos europeus: aqui o foco é muito mais fechado no jogador e na jogada que ele está fazendo, enquanto lá fora o campo de visão é mais aberto, para o time quase todo.

Nessa Copa tínhamos um craque: Neymar. Ele decididia driblando, partindo em velocidade, puxando a marcação, fazendo gols. Infernizando a defesa adversária, em suma. Isso colocava uma pressão absurda, não só em cima dele como em cima do time: “Se temos um cara que decide, é nele que a bola precisa estar o máximo de tempo possível.”

Pensamento justo, evidentemente. Óbvio, até. Mas que pode levar a deficiências no futebol.

Toda a bola vai nele. Toda jogada precisa, necessariamente, passar por ele. Ele é o mais visado pela marcação. Ele decide.

Isso torna o jogo previsível. Por que, então, dá certo? Ora, porque Neymar é imprevisível. E, com tudo isso que eu citei acima, ele decide mesmo assim.

Mas, vocês se lembram, o Brasil não jogou bem nos três primeiros jogos. O craque sim, decidiu. Até nas oitavas e nas quartas, batendo escanteio.

O cenário agora é outro: com Neymar fora, a referência sai também. O problema é que essa referência existe também para o adversário. “Bola no Neymar, que é jogo de campeonato”.

Sem ele, o Brasil passa, obrigatoriamente, a ter que jogar mais como equipe. Vão precisar aparecer variações de jogo, viradas de lado, laterais mais atuantes, meias que armam melhor, atacantes que abrem espaços, jogadas ensaiadas, um sistema de transição sólido, etc. Para suprir sua carência, a Seleção vai ter que melhorar – caso isso não aconteça, amigos, a eliminação é eminente.

Isso é uma teoria, um cenário possível. Se eu acredito que possa acontecer? Acredito. Confio no trabalho do Felipão para modificar essa equipe e o cenário.

Dá? Dá.

Estamos todos na torcida para que funcione.

domingo, 6 de julho de 2014

Neymar na final? Deixem o craque se recuperar em paz!

Surge a notícia no Globoesporte.com de que Neymar poderia jogar uma eventual final de Copa do Mundo sob efeito de analgésicos para inibir a dor.

Que insanidade é essa?

Será que todos se esqueceram do que aconteceu na última vez que o Brasil colocou um craque sem condições de jogo numa final de Copa do Mundo? Será que Ronaldo em 1998 não foi o suficiente? Trazendo mais para tempos recentes, será que todo mundo já esqueceu do que aconteceu com o Atlético de Madrid colocando o Diego Costa sem condições de jogo, queimando uma substituição cedo e vendo o time totalmente esfacelado na prorrogação tomar 4 gols?

Agora Inês é morta. A lesão está aí. Neymar vai precisar de um bom tempo de paz e descanso para se recuperar plenamente. Forçar a barra para que ele entre em campo no domingo, se for o caso, é uma loucura descabida.

Mais vale ter um bom jogador com 100% das condições físicas do que um craque baleado e jogando a base de analgésicos. Fraturar um osso não é pouca bobagem.

Espero que a CBF tenha bom senso. E boa memória.

Semifinais de sonho


Uma das melhores Copas do Mundo dos últimos anos não poderia deixar de ter confrontos épicos nas semifinais. Jogos que vão ser verdadeiros testes para cardíacos.

A decepção, talvez, é que não tenhamos a “cota da surpresa das semis” nesse ano. Quem não lembra da Bulgária em 94, da Croácia em 98, da Coreia e da Turquia em 2002 ou do Uruguai em 2010? (que não é bem uma “zebra”, mas o time não era pra tanto) A Costa Rica poderia estar lá, mas o golpe de genialidade (ou loucura) de van Gaal na disputa de penalidades evitou isso.

Falemos, então, dos jogos.

Estamos diante de duas semifinais que já foram finais de copas. Brasil e Alemanha decidiram o título de 2002 (vitória brasileira), enquanto Holanda e Argentina decidiram o de 1978 (vitória hermana). Independente de quem chegar na final, o confronte será carregado de história.

Caso sejam Alemanha e Holanda, a história mostra a final épica dos times de Cruyff e Beckenbauer em 1974.

Alemanha e Argentina disputaram duas finais consecutivas (feito inédito): 1986 e 1990, com um título para cada lado.

Brasil e Holanda jogaram partidas memoráveis em 1974, 1994, 1998 e 2010. Duas vitórias para cada lado (considerando a disputa de pênaltis na França em 98).

E Brasil e Argentina (ai, meu pai...) jogaram quatro vezes. Vitória brasileira em 74 e 82, empate em 78 e vitória argentina em 90.



Como não gostar de uma Copa do Mundo com semifinais assim?

sábado, 5 de julho de 2014

Holanda 0 (4) x (3) 0 Costa Rica: O louco e o herói

Difícil lembrar agora que tivemos 120 minutos de bola rolando antes das cobranças de pênalti. Mas juro que vou fazer um esforço.

A Holanda, como era de se esperar, ditou o ritmo de jogo. Mas na verdade, nem tanto: eles gostam de jogar com espaço, com velocidade e, especialmente, no contra ataque. E a Costa Rica não cedeu nada disso o jogo inteiro.

Surpreendentemente, em alguns momento os centro americanos chegaram a assustar, com bons chutes. Logicamente isso foi diminuindo até o final do segundo tempo, quando começou um verdadeiro bombardeio na área de Navas – herói do jogo e da Copa do Mundo, aliás.

Na prorrogação, Robben continou com um fôlego que beirava a surrealidade. Correndo o campo inteiro, armando o jogo, finalizando e até batendo um papo com o técnico costarriquenho. E não cansou.

A Holanda também estava em cima, mas ora parava da zaga, ora no goleiro. Em um contra ataque fulminante, a Costa Rica chegou a ter uma chance clara e cristalina. Dessa vez, o goleiro holandês salvou.

E algo estranho aconteceu.

O técnico da Holanda, van Gaal, tirou Cillessen do gol e colocou seu reserva no lugar, Krul. Isso no último minuto do segundo tempo da prorrogação. Confesso que eu achei estranho e arriscado demais. Não se fala que jogador frio não pode bater pênalti? E goleiro frio?

Queimei minha língua. Aliás, essa Copa do Mundo tá boa pra isso. Haja gelo.

Krul pulou certo em todas as 5 cobranças da Costa Rica e conseguiu pegar dois pênaltis. O primeiro vá lá, mal batido. Mas o segundo foi bom – não perfeito, mas bem batido. Já os holandeses estufaram as redes com cobranças magistrais e indefensáveis.

Irônico. Astro dos 120 minutos, melhor goleiro da Copa do Mundo até aqui, Keylor Navas não conseguiu aparecer nas grandes penalidades. Krul, que entrou só pra isso, sim.

Ficam os parabéns para a Holanda, que promete endurecer pra cima da Argentina, e pra Costa Rica, que foi eliminada da Copa do Mundo invicta e cheia de história pra contar.

Do grupo da morte, foi quem chegou mais longe. Lendário.

No dia em que tivemos van Gaal louco, também tivemos Krul herói.

Copa, quero mais Copa!


Argentina 1 x 0 Bélgica: Pobre varal

Existem camisas e camisas no futebol. Algumas são pesadas, algumas são leves, algumas voam com uma lufada de vento e algumas envergam o varal.

Pobre varal que segurou a camisa argentina nesse jogo.

Não que seja exatamente um bicho papão de Copas do Mundo – não nível Brasil, Alemanha e Itália – mas a diferença para a Bélgica é brutal. Depois da boa partida nas oitavas de final contra os Estados Unidos, ninguém esperava uma exibição tão pobre.

A verdade é que a Argentina jogou muito melhor nos primeiros minutos de jogo. A tal história da camisa: a Bélgica parecia perdida e atordoada em campo. O gol foi mera consequência disso.

E, como o futebol gosta de repetir roteiros, teve a famosa pressão apenas no final do jogo. Bola na área, o goleiro Romero salvando o que dava, o ataque perdendo domínios incríveis. Mas entre o final do primeiro tempo e o começo do segundo, deserto de ideias.

Hazard, que se esperava um mundo de coisas antes da Copa, decepcionou de novo. Apático, apagado e jogando de lado, não conseguiu render nem sombra do que pode. Sua saída, embora surpreendente pelo momento do jogo, tem justificativa.

Messi hoje não foi tão bem quanto nas partidas anteriores. Conseguiu algumas boas jogadas, e só. A marcação estava acertada.

Mas os belgas vão para casa de cabeça erguida. Se tudo seguir como se planeja, deve vir muito forte para a próxima Copa do Mundo – dessa vez na Europa, onde os países de lá historicamente têm um desempenho melhor.

Pensando bem, não sei se foi o varal ou se foi a Bélgica que não aguentou a pressão.